VIDA, OBRA E MITO JK,
O ESTADISTA
Ler, anotar muitas coisas e
resenhar JK, especialmente Vida, Obra e Mito JK, o Estadista, livro do também
Professor Vicente Cruz Filho é para mim um grande prazer e muito nos honra.
O menino Nonô de Diamantina – MG não queria ser padre, mas sim Doutor. Filho de Dona Júlia Kubitschek de Oliveira, professora, que passa a morar com os dois filhos Naná e Nonô na escola em que trabalha, após sua viuvez. Nonô, batizado com o nome de Juscelino Kubitschek de Oliveira vai se tonando um grande “ledor de livros”. Mesmo sem sapatos até os doze anos e com apenas seis livros, no sistema de trocas, lê centenas de outros livros. Mesmo não tendo gratuidade em curso no Seminário de Diamantina, não queria ser padre, mas sim médico. Nonô, agora Juscelino Kubitschek de Oliveira sonha em ter um emprego estável para custear um futuro curso de medicina: neste preparo lê, mais de trezentos livros de assuntos variados, na Biblioteca da União Operária Beneficente de Diamantina. Com dezessete anos de idade Juscelino viaja de trem para Belo Horizonte com passagem e algum dinheiro, conseguidos através da venda da única joia da família, vendida por Dona Júlia para custear o filho em concurso para telegrafista no Departamento de Correios e Telégrafos em Belo Horizonte. Feito a prova, volta para Diamantina onde aguarda com ansiedade, por longos seis meses, que aprovado, mudaria tudo em sua vida. Telegrafista nos Correios, trabalhando no horário noturno ele consegue, com seus recursos, se preparar para ser médico. Foi aprovado no vestibular em 1922. Em sua formatura como médico apresenta à mãe, Dona Júlia, sua namorada que conheceu em Belo Horizonte, Sarah Gomes de Lemos. Aqui, o antes Nonô, agora Juscelino descobre: (“ ... pelos estudos que ser-me-ia possível quebrar as algemas), ... caminhos que haverão de presenteá-lo em muitos sucessos de vida. Do despertar dos livros de sua juventude, a França teve lugar expressivo e é onde Juscelino Kubitschek de Oliveira faz uma especialização em cirurgia, sagrando-se no primeiro lugar entre oitenta médicos cursantes. Já casado com Dona Sarah, sua esposa por toda vida, a Revolução de 1930 o levou à Força Pública de Minas Gerais, hoje Polícia Militar de Minas Gerais, como Capitão-médico e chefiando o Serviço de Urologia do Hospital Militar de Minas Gerais, em Belo Horizonte e depois Major e Tenente-coronel-médico, no mesmo Hospital, já em 1955, Juscelino vê que o aprendizado de sua vida, até então, o desperta para o discurso, sua ferramenta para seu sucesso político no país. Secretário particular e Chefe de Gabinete do então Interventor Benedito Valadares tinha as manhãs livres para exercer a cirurgia hospitalar e em 1934 é eleito Deputado Federal. Em 1937 Getúlio Vargas fecha o Congresso Nacional e Juscelino volta a clinicar no Hospital Militar, mas sua lide política está desperta*. Indicado para Prefeito de Belo Horizonte por Benedito Valadares aí então JK assume e começa seu espírito de renovação na administração pública. É famosa sua citação ao terminar a construção da Av. do Contorno para a visitação de Getúlio Vargas à Belo Horizonte: ...´são os dez mil servidores de que disponho’ ... são os dez mil burrinhos no transporte de terras na construção da avenida. São suas como, prefeito, obras do complexo da Pampulha – hoje Patrimônio Histórico, o Hospital Municipal Odilon Behrns, o Conjunto Residencial IAPI, os Restaurantes Populares em Belo Horizonte, os famosos bandejões e é na maioria dessas construções que surgem os empreendedorismos profissionais de Oscar Niemayer, Lúcio Costa, Portinari e Burle Marx que logo depois vão estar presentes na construção da Capital da Esperança – Brasília. Governando Minas com êxito frenético do binômio ENERGIA e TRANSPORTE, construindo e pavimentando estradas no Estado cria a Cemig, a Frimisa e a Fertisa (fertilizantes). O dinamismo de seu governo o faz natural candidato a Presidente da República para o pleito de 1955. Eleito em primeiro turno teve sua posse muito ameaçada e é daí uma de suas frases famosas: “Poupou-me Deus o sentimento de medo”. Alicerçado no trinômio ENERGIA – TRANSPORTE E ALIMENTAÇÃO JK se compromete com um Plano de Metas de 50 anos de progresso em 5 anos de governo e verdadeiramente não estava em sua meta a construção de Brasília e segundo o autor, JK é questionado pelo goiano Antônio Soares Neto – o Toniquinho - por que não construir Brasília? Aceito o desafio Toniquinho está com JK no Planalto Central visitando as obras de 43 meses de trabalho frenético e interrupto. Foram realmente 50 anos em 5 com o Brasil não mais importando geladeiras, aparelhos elétricos e até automóveis, um país promissor que já tinha quase tudo. Recebendo as chaves da Nova Capital do país do engenheiro mineiro Israel Pinheiro.
Relata em sua obra, o professor Vicente Cruz Filho
um governo JK com apenas 25% de inflação contra 130% de João Figueiredo, Sarney
com 472% e um Fernando Collor com 948%. As dívidas públicas são notáveis no
comparativo em dólares: 200 bilhões de FHC, 148 bilhões de Itamar Franco, 136
bilhões de Collor, 102 bilhões de Figueiredo e 3,5 bilhões de JK. A ideia do
livro é acalentada desde 2004 e o autor faz agora a publicação tendo como joia
o famoso discurso do Eterno Presidente quando assumiu uma Cadeira na Academia
Mineira de Letras. Dentre outras coisas JK fala solenemente: (“... a aceitação
unânime de meu nome por esta Academia, declarei-vos de haver feito um homem feliz.
... a presença nesta solene sessão de um dos maiores vultos contemporâneos do
Brasil, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota para apresentar –me as saudações
desta Academia, me fez um homem feliz ‘ aplausos demorados’. ... do fato de ter
como Governador de Minas visitado todos os municípios mineiros, àquela época
quatrocentos e cinquenta ... li, li muito, li bastante, em quantidade e
qualidade ... no quadro sisudo do Velho Tijuco ... não saberei dizer como
dominei o susto, ao ter que pronunciar, em Diamantina o improviso que marcou a
primeira e difícil etapa que me levou às culminâncias do poder ... divisei-me
com uma pequena e curiosa aglomeração na modesta Estação Ferroviária para dar-me
as boas vindas, após o sacolejo de quinze horas. O néctar transportava-me aos dias de jovem e
os ensinamentos de Vieira, de Rui e de Montalverne, que naquela época já me
tinham revelado a eloquência ajudaram-me e pude desatar a língua, que desatada
ficou por várias décadas, proporcionando-me a levar ... vastidões do Brasil, o
evangelho da liberdade. ‘aplausos demorados
‘
A poltrona na
qual hoje me emposso, dignificada por Mendes de Oliveira ... ninguém foi mais alto
do que ele, na glorificação do soneto, poltrona depois ocupada por Noraldino
Lima, Diretor da Imprensa Oficial, secretário de Estado e Deputado Federal, coube-lhe
tudo com que Minas poderia alardoar o filho predestinado, inclusive a Chefia de
Governo. ... sete anos são passados, não me esqueci e não se esqueceram os que
viram e ouviram Guimarães Rosa afirmar na Academia Brasileira de Letras, em sua
posse, que as pessoas não morrem ficam encantadas, eu estava lá, num dos raros
discursos de Rosa na Academia. ... se a saudade machuca, é também a mais nobre
moldura para a recordação. Na viagem que inicio não mais encontrarei a rasgarem
a minha carne os espinhos que tanto me feriram ... servir o Brasil e a terra
muito amada de Minas. ‘aplausos demorados’ Sei que
compartilharia com tal gáudio aquela que me educou e a quem, lá do Céu,
contemplando a vitória do filho, bendirá a Deus a ventura de lhe haver
permitido trazer, da legendária Diamantina até esta soberana Academia Mineira
de Letras, o menino pobre que lutou sem tréguas, para algum dia merecer
esta “glória que fica, eleva, honra e consola”. 6 ‘palmas por vários
minutos’ ‘ “)
6 –
Parte III do poema “versos a Corina”, de Machado de Assis.
Cruz Filho, Vicente
Vida,
obra e mito JK, o estadista
Belo Horizonte: Páginas Editora, 2021
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: discursosil. Foto.p&b
*Paulo
Pinheiro Chagas, deputado mineiro e Ministro de JK lembra em um de seus
discursos de uma das primeiras sagas políticas de Juscelino: “... esqueçamos, esqueçamos, como quem
esquece 37, a história também tem o seu pudor”
Mário de Castro
PS – De duas feitas tive o privilégio de ver, ouvir e
falar com Juscelino Kubitschek de Oliveira. Na primeira vez, no assento traseiro
de um automóvel preto e grande - muito bonito – isso no antigo abrigo de bondes
Sr. Bom Jesus - Cachoeirinha -, no centro da cidade de Belo Horizonte, rua
Curitiba, em frente ao predinho Sede da Drogaria Araújo, quando o menino,
também engraxate e também com mais ou menos 11 anos, falou e pediu: Olha lá,
olha lá Doutor Juscelino!!! Doutor
Juscelino: me dá um dinheiro aí!!! E ele, um estadista, o Governador do Estado de
Minas, tira do bolso algumas moedas: - Toma, parte com vocês dois; e, dando
ordens ao motorista, foi-se embora. Na segunda vez, assustador e quase
incrível, no início da década de 60 por volta de 61/62; não sei precisar bem, na
sede do Partido Social Democrata – PSD – à rua Espírito Santo 920 – Centro de
Belo Horizonte, assusto-me ao ver entrando naquela sede o Presidente JK! Me estendeu a mão: - boa tarde meu jovem, O Dr. Renato Azeredo já
está aí? – Não Presidente, mas vou chama-lo imediatamente, assente-se por favor,
vou servi-lo um cafezinho! Pasmem!!! Em
minutos e ainda o presidente tomando o cafezinho entra no casarão da sede do
PSD, Dr. Renato Azeredo – Vice chefe da Casa Civil do Presidente JK, e em seguida
o casarão do PSD fica repleto de gente, de repórteres, de jornalistas, de
políticos, e curiosos em ver o Eterno Presidente
da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira.